Memorial Guarani

Por Maynõ Guarani
Foto: Lucas Rokadju
Edição: Luã Quintão 


Cresci ouvindo dos anciãos da minha etnia sobre um tempo onde meu povo vivia bem. Nesse tempo o meu povo caminhava sobre a terra, para onde eles sonhassem que tinham que ir. As pessoas se encantavam e alcançavam a terra sem males. Eles ainda diziam que nesse tempo não havia fome e nem doenças.

Meu povo caminhava por lugares onde ninguém um dia pensou em caminhar, e nada de ruim lhes acontecia. Essas falas dos anciãos nos permitem sonhar e também sentir saudade de um tempo que nós não conseguimos vivenciar.

Sabemos que no decorrer da formação do nosso país, muitas coisas cruéis foram feitas ao povo indígena e ao povo negro. Aldeias mortas, povos dizimados e tantos outros negros e indígenas que foram retirados de seu laço familiar e ancestral. O mês de abril é um momento para celebramos a nossa existência, nossa contribuição ancestral na formação do nosso país.

Mas que também possamos lembrar de tantos parentes que lutaram, que lutam e que morreram para defender os povos indígenas. Que possamos lembrar e honrar a memória de etnias inteiras que sumiram, mas que ainda permanecem adormecidas na identidade de grande parte da população do nosso país.

No ano de 1940 foi realizado o primeiro congresso indigenista interamericano. Desde então o movimento indígena tem se fortalecido, foram criadas organizações indígenas que visam garantir uma série de direitos aos povos indígenas do Brasil.

No entanto, muitos parentes em vários lugares do país ainda sofrem com o interesse de fazendeiros, madeireiros e garimpeiros que tentam explorar as terras indígenas, principalmente após a eleição do nosso atual presidente Jair Bolsonaro, que em sua campanha prometeu legitimar o aproveitamento econômico de territórios indígenas.

Já existe uma proposta de emenda parlamentar com a autoria do Senador Federal Romero Jucá do PFL/RR onde propõe a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras indígenas. Ressalto que essa exploração já ocorre em territórios indígenas e resultam em conflitos desde 1500 e que perduram até os dias de hoje. A proposta de emenda parlamentar busca legitimar essas ações que são de conhecimento do governo e que a muito tempo já poderia ter evitado a morte de tantos indígenas e tantas outras violações.

Sob o aspecto cultural, os índios sofreram um processo de aculturação por parte dos padres jesuítas, povos foram impedidos de falar a sua própria língua, seguir sua cultura, tiraram a nossa dignidade e ainda tiram. O contato dessa população indígena com os fazendeiros, madeireiros e garimpeiros conflituosos e ilegais promovem uma série de mudanças, que vão desde a instalação de epidemias, violações e mudança nas relações socioculturais.

Nós indígenas somos cidadãos brasileiros como qualquer outro e temos o direito de determinar o nosso próprio destino. Não cabe aos governos decidirem por nós, somos capazes de decidir por nós e pelo nosso território.


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