O barro e as raízes de uma mulher guerreira

"Aquelas raízes eram como se fosse eu me aprofundando na terra”, Renalda de Oliveira Pêgo
Por Luã Q.

Sentimentos que se transmutam no barro. Caminhar na floresta, cavar a terra e as mãos lameadas fizeram nascer uma das obras mais delicadas da artesã Tupinikim Renalda de Oliveira Pêgo, que mora na aldeia de Caieiras Velhas, no município Aracruz, Espírito Santo. A peça foi feita em 2016 e retrata uma mulher pensativa, sentada sobre as raízes de uma árvore.

“Eu estava passando por um momento difícil. Minha filha teve um câncer e eu sofri muito. Mas um belo dia peguei o barro e comecei a esculpir. Surgiu na memória uma árvore com várias raízes. Aquelas raízes eram como se fossem eu me aprofundando na terra”, comentou.

É uma peça simples e profunda. Cada detalhe esconde memórias da artesã, que relembra: “eu estava triste em cima da raiz, mas não perdi a esperança. Eu sabia que minha filha ia ser curada”.

Foram momentos difíceis para Renalda. Ao mesmo tempo em que lutava junto a filha, também passava seu tempo dando aulas. As crianças, segundo ela, transmitiam energias positivas e a ajudaram a manter-se firme. Já a árvore se tornou símbolo de esperança.

Apesar do momento delicado em que passava na época, a artesã se mantinha firme enquanto enfrentava a doença da filha. Detalhe por detalhe, tempo soprando de vagar, terra, barro, árvores, uma obra de arte. “Vinha tristeza, mas minhas raízes estavam se aprofundando”.

A arte de Renalda de Oliveira Pêgo é fruto da conexão da artista com a terra. Superar, enraizar, cultivar, esculpir, transmutar. “Como é bom mexer com o barro!”, finalizou.




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